PELAS SOMBRAS



Ao padre Francisco de Paula
C’est que je suis frappé du doute
C’est que l’étole de la foi
N’éclaire plus ma noire route:
Tout est abîme autour de moi!
La Morvonnais

Senhor! A noite é brava... a praia é toda escolhos
Ladram na escuridão das Circes as cadelas...
As lívidas marés atiram, a meus olhos,
Cadáveres, que riem à face das estrelas!

Da garça do oceano as ensopadas penas
O mórbido suor enxugam-me da testa.
Na aresta do rochedo o pé se firma apenas...
No entanto ouço do abismo a rugidora festa!...

Nas orlas de meu manto o vendaval s’enrola...
Como invisível destra açoita as faces minhas...
Enquanto que eu tropeço... um grito ao longe rola...
"Quem foi?" perguntam rindo as solidões marinhas.

Senhor! Um facho ao menos empresta ao caminhante.
A treva me assoberba... Ó Deus! dá-me um clarão!

E uma Voz respondeu nas sombras triunfante:
"Acende, ó Viajor! — o facho da Razão!"