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E ela ficou, humilhada, com o temor de que alguém da loja fosse desconfiar |
E ela ficou, humilhada, com o temor de que alguém da loja fosse desconfiar. Passara uma tarde inteira, uma noite inteira, a manhã toda a pensar naquele ente, ela que bastaria acenar para ter vários secretários de legação, e ele não se lembrava dela - vulgar, vulgaríssimo, talvez nos braços de outra criatura. Mas ele vinha solicito, comercial, querendo mostrar-se negociante, com o orgulho infantil de vender bem. - Nem lembrei que vossência esteve cá ontem. São tantos os fregueses! Essa ingenuidade deu-lhe a ela um pouco de ousadia: - Que memória! - Mas logo lembrei. Até estive a mostrar-lhe umas voilettes. E sorria. Ela então pôs-se a ver os véus de que não tinha aliás necessidade. Ele abria caixas e caixas. Sobre o vidro do balcão jaziam rendas, gazes, tecidos aéreos de todas as cores. Ela, inconscientemente, estabelecera a confusão fatigosa como um estrategista, para tocar uma daquelas mãos que deviam ser quentes e macias. No momento propício, vinha-lhe um frio e não ousava. Para não o desagradar, apartava mais um véu, e continuava. Sofregamente as suas lindas mãos contraíam-se de jaspe sobre o multicor das gazes. O seu colo arfava. Sentia a boca seca, não podia quase falar. Que iria acontecer se conseguisse? Ele compreenderia? Ele falaria cheio de vaidade com a aventura enorme? Ele não recusaria. E depois? E depois? - Veja a senhora este que é o mais fino. |
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