Que fazer? Que fazer? A vertigem apoderava-se de nós...



Fora caía um temporal desabrido. A estação estava atulhada. Homens suados, bandos alagados, máscaras passavam numa alucinação como galvanizados pela luz elétrica. Ninguém reparava em nós, ninguém decerto, ninguém, ninguém. E entretanto sentíamos que o perigo se aproximava seguro, com o passo firme. Onde estava ele? Era o homem do éter, o homem cuja fisionomia eu nem mesmo conhecia, ele com a sua cara, ou com uma máscara. E olhava-nos, e estava ali, e reconhecera-nos. Sim.

Devia estar, devia ter reconhecido. Que fazer? Que fazer? A vertigem apoderava-se de nós. Aquela mulher era decerto o pólo negativo a chamar misteriosamente, a atrair o horrendo ser. Ele adivinhava por uma revelação telepática. Sei lá! Sei lá! O fato é que Corina apoiou o corpo no meu braço:

- É o fim!

- Anda para frente, estafermo! rouquejei furioso.

- Não partimos mais, Rozendo.

- Partimos sim!

- Ele está no apeadeiro, sinto-o!

- Prendemo-lo.

- Ele vai tomar o trem conosco. Ele mata-me em viagem!

- Miserável, caminha ou largo-te!

- Voltemos, Rozendo. Ainda é possível escapar, se apanhamos ai um automóvel...

- Agora?

- Sim! Sim!

- Agora? repetia eu correndo, como diante do inexorável Destino. E não havia máscara ou cara suspeita!

Na praça deserta - faltavam as conduções. Só, ao longe, rebrilhavam as lanternas de um carro. Ela deitou a correr. Segui-a, olhando para trás. Ao chegarmos à beira do carro, um landau fechado, estávamos completamente alagados. A chuva redobrava.

- Para onde?

- Ande!

- É vinte mil-réis a corrida.

- Seja cem! Depressa!

- Para onde quiser!

O trem tomou o caminho do lado da Casa da Moeda.

- Vamos à delegacia, Rozendo?

- Queres?

- Se ainda for tempo!

Convencido de que não seria possível lutar só contra o horror invisível, gritei ao cocheiro:

- Polícia Central! A toda...

O carro, porém, parara.

- Que há?

- Raios o partam! Rebentaram as correias das bestas.

- Hem?

- Dos dois lados. Caiporismo!

- E agora?

- E esperar aqui, até que passe outro carro. Não posso guiar assim.

- Meu Deus!