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Então penteou o cabelo como os banhistas, com muita brilhantina... |
A vida de delírio começou então. Ela entregava-se e sentia-o como um imenso acorde do seu próprio ser. Cada beijo era uma revelação, cada abraço a dissolução de um mundo. E a necessidade de ocultar de olhares profanos aquele sentimento ainda mais os incendiava. No banho, ela estudava o momento de apertá-lo, de mordê-lo, esperava com a porta do quarto entreaberta para um beijo; em casa, as lições de leitura eram a leitura de Paulo e Francesca, no verso de Dante. Jamais, porém, ela mostrava desconfiar da sua verdadeira situação, e Geraldo, sentindo-se indigno de si mesmo, continuava a ser o banhista Túlio, sem forças para dizer a verdade. Afinal, o senador Eleutério soubera do caso, e, mais pai do que amante, resolvera mandar Alda à Europa, a ver se o escândalo terminava. Alda chorava, queria viver sem roupas, em Santa Luzia, com o seu Túlio, e fora um verdadeiro trabalho o convencê-la de uma breve separação. - Tu queres, Túlio? - É para teu bem. - Queres mesmo? É o nosso amor que matas... Eleutério comprara as passagens combinara tudo. Era no dia seguinte que Alda partiria. Geraldo, preparando-se para a última visita, relembrava aqueles dois meses loucos de romantismo. Como aquilo fora! Era lá possível prever? Antes, porém, da partida era preciso dizer-lhe a verdade. Ele ia para o último ato. Então penteou o cabelo como os banhistas, com muita brilhantina, pôs o chapéu e o capote, consertou ainda uma vez o lenço de seda e partiu. Alda estava na mesma sala da primeira vez, muito abatida. Estendeu-lhe as mãos e a boca. - Meu amor... A última vez! E deixou-se cair. - Alda, que é isso? ânimo... - Lembras-te? Há dois meses!... Quanto amor! Quando te vi, desde que te vi, meu amor, amei-te. Que me importava que tu fosses banhista? Se era a tua carne, o teu corpo, os teus olhos que eu desejava, meu adivinhado querido... Nunca, nunca mais sentirei o que senti por ti, no mar, quando te tinha a meu lado, forte, meu, fiel... Dize!... Nenhuma outra será como eu. Pois não? - Mas, Alda... - Aquela casa vão tantas mulheres! E tu tens que servir a todas, tens que as segurar, tens que as salvar... Geraldo viu que era o momento. - Alda, tenho que te dizer... - Não digas! não digas nada! - Não, há um engano; um engano que não pode continuar. - Não há, Túlio, não há!... - Há. - Pois deixa-o! - Não. Tu pensas que eu sou o banhista Túlio, nascido em Nápoles. - E não és? Es sim, és o meu Túlio. - Criança! Eu sou estudante de medicina, chamo-me Geraldo Pietri. |
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