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Tirei da botoeira da casaca um alfinete, e nervoso, nervoso como se
fosse amar pela primeira vez, escolhi o lugar, passei a mão, senti a
pele macia e enterrei-o. Foi como se fisgasse uma pétala de
camélia, mas deu-me um gozo complexo de que participavam todos os
meus sentidos. Ela teve um ah! de dor, levou o lenço ao sítio
picado, e disse, magoadamente: "Mau!"
— Ah! Justino, não dormi. Deitado, a delícia daquela carne que
sofrera por meu desejo, a sensação do aço afundando devagar no
braço da minha noiva, dava-me espasmos de horror! Que prazer
tremendo! E apertando os varões da cama, mordendo a travesseira, eu
tinha a certeza de que dentro de mim rebentara a moléstia incurável.
Ao mesmo tempo em que forçava o pensamento a dizer: nunca mais farei
essa infåmia! todos os meus nervos latejavam: voltas amanhã; tens
que gozar de novo o supremo prazer! Era o delírio, era a moléstia,
era o meu horror..
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