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Aquele canto perto dos Telégrafos, às nove de uma noite de
inverno... Em frente, os destroços da antiga Ucharia, embocando
a rua Clapp, cheia de prédios grandes, com lanternas. Para baixo,
os jardins sucessivos da praça até ao cais, sob o permanente espasmo
de um estendal de låmpadas elétricas - tantas que na poeira azul da
luz os transeuntes se destacavam ao longe como vistos por um binóculo
de teatro. Varrendo a praça, a sacudir árvores e rodopiar folhas
secas, gargolejando pela rua da Assembléia, um vento álgido corria
a sua tragédia sem causa. Era no centro da cidade. Estava ermo.
Parecia ao menos ermo. E no abandono silencioso - único e seguido
sintoma de vida urbana -, de instante a instante os inúmeros carros
elétricos rolando como trovões a retinir sons metálicos de
aviso...
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