Como achava prazer naquilo o Augusto Guimarães, tão fino, de tão lúcida inteligência?



Como achava prazer naquilo o Augusto Guimarães, tão fino, de tão lúcida inteligência? Havia dias, entretanto, conseguia arrastar-me, também a mim, por esses pontos equívocos de dramaticidade misteriosa.

- Compreenderás tu a minha nevrose? indagara dele. Estou que o sentimento é uma ilusão da civilização. A gente baixa tem apenas instintos. O sentimento da beleza, da bondade, do pudor, da honra - invenções nossas como os perfumes franceses e as modas da rua da Paz! Vê o doloroso estudo do mundo das mulheres perdidas na alta sociedade. Esse mundo é a esquina por onde passam todos os homens. Nada mais abjetamente artificial. É a antiga cocotte que feminiza, desfibra o homem contemporåneo, à força de momices, de luxos, de pretensões. Na pobre coitada que faz a rua à noite, o drama é a falta de alma, a falta de sentimento. Os homens conservam-se rudes e fortes. Eu desejaria encontrar uma alma nos manequins trágicos que acendem o desejo na forma noturna...

- És romântico.

- Não; sou doido.