As cinco horas os sete amigos estavam à roda de uma mesa ...



As cinco horas os sete amigos estavam à roda de uma mesa em uma das salas particulares do hotel da Europa.

- Com que, perdeste? disse um.

- Não te dizíamos nós! acrescentava outro.

- Aprendeste à tua custa, acudia o terceiro.

- Não serás tolo em outra ocasião, observou filosoficamente o quarto.

- São as lides que formam cavaleiros: isto é de um poeta, citava o poeta da reunião.

- O que te vale é que não pareces ter perdido muita coisa do coração neste negócio, dizia o último.

- É verdade, respondia Ernesto, dizes muito bem. Perdi, mas salvei o coração. Meu amor-próprio não deixou de ressentir-se com isto; mas juro que fiz o que era humanamente possível. É que realmente a rapariga é insensível. Pois, olha, posso afirmar que eu conheço o nome aos bois...

Toda a conversa foi por este teor.

E era de ver a alegria sincera com que Ernesto abriu a carteira, no fim do jantar, para saldar a vistosa conta que o caixeiro lhe apresentara.

Devo dizer que o jantar que serviu de funeral ao amor de Ernesto foi dos mais escolhidos.

Duas palavras, em forma de epílogo, para fechar este ligeiro episódio.

Onda prosseguiu nos seus amores fáceis, dando a todos os mesmos desenganos que custaram a Ernesto... um jantar.

Mas enfim, se os namoros passavam, também passava o tempo, e um dia, estando ao espelho, Onda viu que a primeira ruga se lhe desenhava no rosto. Tinha ela então trinta e três anos. A ruga era prematura, mas, fosse ou não, existia, e esta descoberta deu sério cuidado à moça.

Esperar o amor que sonhara pelos romances era arriscar-se, visto que à primeira ruga sucederiam outra e outras.

Era preciso achar marido.

Lançou as vistas à lista dos seus adoradores, já muito diminuída, não porque lhe faltasse a beleza, mas porque lhe sobrava travessura para os arredar.

Entre esses adoradores havia um que pela terceira vez depositava o coração aos pés da bela namoradeira. Da primeira vez era um simples tenente de cavalaria; da segunda era capitão; agora era já major.

Onda resolveu que lhe cumpria assentar praça ao lado do major.

Daí a um mês anunciava-se o seu casamento. O major abençoou a sua insistência e recebeu em matrimônio a esquiva donzela.

Daí para cá Onda tem-se mostrado fiel às armas. Quando Ernesto e os outros souberam disto fizeram muitos epigramas, alguns desconsolados e sensaborões.

Mas a rapariga casou-se.

Ernesto no fim de dois anos vingou-se de tudo procurando mulher e encontrando uma das mais modestas deste mundo. Os dois casais são felizes; o leitor não menos por ter chegado ao fim deste episódio sem derramar uma lágrima, e eu tanto como o leitor, por ter pingado o ponto final a este escrito, cujo assunto principal é um desvio do espírito das mulheres