Talvez eu também passasse por um período de loucura. O certo é que o acompanhava



Talvez eu também passasse por um período de loucura. O certo é que o acompanhava, sem preconceito, sem vergonha, por curiosidade. A vida normal, aliás, a vida dos ônibus e dos transeuntes, passava sem nos ver. A outra, a das esquinas de má fama, nem dos carros e dos pedrestes era vista nem por acaso os via. Augusto estudava. Pobre Augusto! Ficávamos horas a ver repetidas as mesmas cenas de luxúria animal e de sordidez. Os homens, marçanos, soldados, discutindo as moedas. As mulheres feias, sujas, maquinais. Nem por parte deles nem por parte delas havia o mais leve esboço de carícia - uns retendo o dinheiro, as outras já sem alma senão para sentir o desejo de não morrer de fome.

- Naquela noite, aparecera, entretanto, uma criatura de destaque no meio. Era velha. Tinha a face severa na queda das pelancas; curvava como se fosse muito idosa; caminhava com um andar de avó impertinente. E usava pelerine, sombrinha, mantilha de rendas sobre os cabelos grisalhos. Atroz! Se fosse uma pobre ninfomaníaca talvez causasse piedade; se estivesse como as outras a morrer de fome, dar-lhe-ia uma esmola. Mas não. Era hostil e comercial. Os marçanos em camisa e lenço de cor, que se aproximaram e discutiram somas, eram repelidos ou afastavam-se com medo. Alguns nem se chegavam. A velha demorou pouco. Tomou logo um transway.

Chamei a atenção de Augusto.

- Quem é aquela velha? indagou o psicólogo, a uma portuguesa magra e amarela, que passeava em chinelas, com um galho de arruda atrás da orelha.

- Não vês logo que está muito triques pra ser da zona?

- Dónde será então?

- É com certeza das sérias que fazem o Rocio. Dá-me a mascote, anda...