A mulher estacou um instante, respirando, concertou os cabelos sujos...



Nesse momento passávamos pela porta que fica em frente ao ministério. Estava lá a velha. Mas numa atitude trágica. Sobre ela caíra em verdadeira montaria um troço de marçanos encervejados. Choviam chufas. E ela, no cerco, esperava firme, o beiço trêmulo, o cabelo grisalho escapando-se da mantilha, a capa já de revés.

- Cachorros! Cachorros!

- Eh, velha... Vem cá...

- Canalhas!

- Ó Zé agüenta a velha aí...

No cruzar das piadas, quando um dos tipos já ia agarrá-la, a velha teve uma inspiração:

- Espera que eu chamo a polícia...

Foi como um golpe. Ela devia conhecê-los.

Não eram rufiões ou soldados que a lembrança da policia excita. Eram bem simples trabalhadores, com uma gota mais de cerveja pelo domingo de descanso. Logo romperam o grupo. À solidariedade de ataque à velha fazia-se desencontrado terror da cadeia. Foram uns para o centro do jardim, disfarçando, desceram outros a calçada, reuniu-se o resto pelas aléias.

A mulher estacou um instante, respirando, concertou os cabelos sujos. E seguiu.

Devo dizer que nem por momentos tive um vislumbre de dó pela criatura repugnante. Não seria eu a defendê-la. Quase ri - enquanto os marçanos a espicaçavam, porque nunca uma criatura me dera impressão tão seca de prostituição hostil. Sim, hostil.