E a minha ironia fora inclemente durante o jantar...



Não era possível ouvir o que diziam. Falaram baixo. O adolescente parara com a esperança de que fosse curta a palestra. Foi. O velho despediu-se. Ouvi distintamente D. Joaquina dizer:

- Lembranças a D. Mariquinhas e às meninas. Qualquer dia apareço...

E ficou como à espera do elétrico. O velho seguiu sem voltar a cabeça. Então o rapaz, a que a demora dera coragem, aproximou-se, falou, discutiu e eu vi seguirem os dois rumo da rua Visconde do Rio Branco...

Fiquei num estado de nervos indizível. Ela era realmente uma criatura com relações de família! E corria as praças aos sessenta anos, talvez mais, e mercadejava-se a rapazolas do povo. Horrível pela fealdade, pela miséria da alma, pela hipocrisia, pelo vício - por tudo! Decididamente - na primeira que a visse havia de saber quem era!

O dia seguinte era sábado. Havia no S. Pedro récita de uma companhia lírica de segunda ordem. Tínhamos jantado juntos, eu e o Augusto Guimarães. Já, com o envenenamento causado pela velha, considerava as psicologias de Augusto simples degeneração pessoal. Estava resolvido a não o acompanhar mais. E a minha ironia fora inclemente durante o jantar. Assim, remontamos à nossa classe, de casaca, seguimos para o teatro pelo jardim, como transeuntes. Muita gente, vinda nos bondes que passavam do outro lado, cortava pelas alamedas. Era um contínuo passar de famílias, risos, boas de plumas, charpas de gaze, sedas de mantôs, perfumes... Íamos a sair em frente ao S. Pedro, quando ouvimos uma voz:

- Doutor Augusto...